quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Capítulo 6 do Livro As Teorias do Jornalismo, de Nelson Traquina

Fichamento

O capítulo 6, As teorias do jornalismo, do livro de Nelson Traquina, apresenta alguns conceitos que norteiam o jornalismo. Frutos de muitos estudos que pretendem mostrar a importância do jornalista, do seu trabalho, o motivo das notícias serem como são e o que justifica diversas formas de manifestação jornalística.
A primeira apresentada é a Teoria do Espelho. Nela, o tipo de notícia produzida é determinada pela realidade que impõe que seja daquele jeito. Ela surgiu em meados do século XIX e veio com a característica de separar os fatos das opiniões, sendo uma das teorias mais importantes para a legitimação do Jornalismo.  O aspecto positivista, da visão “unilateral”, a pura reprodução do mundo real e a ascensão da máquina fotográfica reforçaram a oferta da realidade e a crença na objetividade. Essa ideia de objetividade veio dos Estados Unidos no século XX, durante as décadas de 20 e 30. Sobre a ideolodia da objetividade, Schudson (1972: 122) diz que “os jornalistas substituíram uma fé simples nos fatos por uma fidelidade às regras e procedimentos criados para um mundo no qual até os fatos era m postos em dúvida”. Apesar da fragilidade da teoria que vem sendo posta nos estudos, ela continua sendo um dos pilares de sustentação do jornalismo.
Outro acúmulo acadêmico apresentado é a Teoria da Ação Pessoal ou Gatekeeper, na década de 1950, com David Manning White. Ele foi vanguardista na aplicação do conceito nas pesquisas sobre notícias. O termo “gatekeeper” vem da psicologia do consumidor e aplicado à área, refere-se a um processo de produção da informação onde uma série de escolhas onde o fluxo de notícias pede que haja uma “seleção” e é neste papel que o jornalista passa a ganhar certa visibilidade. É aí que entra mais especificamente o trabalho do Editor, onde o processo de seleção é subjetivo e arbitrário, onde os juízos de valor são baseados no conjunto de experiências, nas atitudes e expectativas do gatekeeper. Tudo isso implica diretamente em algumas decisões que resultam em certa falta de espaço, repetição, desinteresse do jornal, exemplos de rejeição de conteúdo que dependem de uma ação pessoal. A filtragem no fluxo de informação, a influência do suporte midiático e o perfil de cada plataforma também contam para isso. Esta mesma teoria avança na questão do papel do jornalista onde a ideia de seleção de notícias não abre espaço para outros aspectos (sociais, culturais, etc) para escolha do que será mostrado, limitando o papel do profissional. O autor também inclui nesses aspectos “desprezados” o faro jornalístico, o não seguimento da lógica típica e questiona a Teoria do Espelho, observando não só a ação pessoal, mas também interesses da empresa.

Traquila fala também que as notícias só podem ser compreendidas com o entendimento das forças sociais que influenciam sua produção. Ele cita uma série de teorias desenvolvidas a respeito dessa influência, entre elas a teoria organizacional, as de ação política, as construcionistas, a estruturalista e a interacionista.
Depois o autor discute a questão do acesso ao campo jornalístico como ponto central, citado por Molotch e Lester. Eles sublinham três tipos de acesso: o habitual, o disruptivo e o direto. O primeiro acontece quando “o indivíduo ou grupo está tão localizado que as suas necessidades de acontecimento normalmente coincidem com as atividades de produção jornalística do pessoal dos meios de comunicação social”.  O segundo trata-se daqueles que precisam ter o acesso à produção dos fatos para uma experiência social. Desejam “fabricar” a notícia indo contra os modos tradicionais e buscam gerar a surpresa. O último é o que se dá por direito a qualquer jornalista, que à priori, tem o poder de escolha, baseado na sua capacidade, de saber quais reportagens farão.
Também em discussão, Gaye Tuchman aparece defendendo que “a formação da rede noticiosa e a forma como os jornalistas nela estão distribuídos têm importância teórica, dado que são a chave da construção da notícia”. Ele trata essa distribuição como fundamental para a produção da notícia, onde a mesma articula-se aos critérios de noticiabilidade. Então ele passa a observar o nível de extensão dessa rede, onde as relações são fundamentais na valorização das informações que recebem. A estrutura que garante a lógica por trás desses lações é estabelecida pela seriedade da relação com as fontes e jornalistas, daquilo que é feito para cultivar esses laços e os critérios de avaliação na interação desses profissionais com os agentes sociais. Gaye Tuchman segue o raciocínio falando da rotinização do trabalho jornalístico, na rotina em que é preciso doutrinar no sentido de melhorar a eficácia da prática jornalística diária mesmo contando fatos diferentes.

Mas para a teoria interacionista, essa rotinização leva a uma dependência perigosa das fontes oficiais onde avalia que seria apenas uma instituição “repassando” informações de outra. Socialmente, o acesso a este campo jornalístico já tem base firme, mas o autor afirma que as fontes não são todas iguais, mas tem a mesma importância. Além disso, conclui que este acesso não é igual para todas, fazendo desta abertura um aval para certo tipo de poder. Por fim, o interacionismo diz que as notícias não são apenas resultado da interação social entre jornalistas e fontes, mas entre jornalistas-jornalistas dentro de um contexto de comunidade profissional, provocando diversas experiências, trocas de conhecimentos, etc.

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