Fichamento
O capítulo
6, As teorias do jornalismo, do livro de Nelson Traquina, apresenta alguns
conceitos que norteiam o jornalismo. Frutos de muitos estudos que pretendem
mostrar a importância do jornalista, do seu trabalho, o motivo das notícias
serem como são e o que justifica diversas formas de manifestação jornalística.
A primeira
apresentada é a Teoria do Espelho. Nela, o tipo de notícia produzida é
determinada pela realidade que impõe que seja daquele jeito. Ela surgiu em
meados do século XIX e veio com a característica de separar os fatos das
opiniões, sendo uma das teorias mais importantes para a legitimação do
Jornalismo. O aspecto positivista, da
visão “unilateral”, a pura reprodução do mundo real e a ascensão da máquina
fotográfica reforçaram a oferta da realidade e a crença na objetividade. Essa
ideia de objetividade veio dos Estados Unidos no século XX, durante as décadas
de 20 e 30. Sobre a ideolodia da objetividade, Schudson (1972: 122) diz que “os
jornalistas substituíram uma fé simples nos fatos por uma fidelidade às regras
e procedimentos criados para um mundo no qual até os fatos era m postos em
dúvida”. Apesar da fragilidade da teoria que vem sendo posta nos estudos, ela
continua sendo um dos pilares de sustentação do jornalismo.
Outro
acúmulo acadêmico apresentado é a Teoria da Ação Pessoal ou Gatekeeper, na década de 1950, com David
Manning White. Ele foi vanguardista na aplicação do conceito nas pesquisas
sobre notícias. O termo “gatekeeper”
vem da psicologia do consumidor e aplicado à área, refere-se a um processo de
produção da informação onde uma série de escolhas onde o fluxo de notícias pede
que haja uma “seleção” e é neste papel que o jornalista passa a ganhar certa
visibilidade. É aí que entra mais especificamente o trabalho do Editor, onde o
processo de seleção é subjetivo e arbitrário, onde os juízos de valor são
baseados no conjunto de experiências, nas atitudes e expectativas do
gatekeeper. Tudo isso implica diretamente em algumas decisões que resultam em
certa falta de espaço, repetição, desinteresse do jornal, exemplos de rejeição
de conteúdo que dependem de uma ação pessoal. A filtragem no fluxo de
informação, a influência do suporte midiático e o perfil de cada plataforma
também contam para isso. Esta mesma teoria avança na questão do papel do
jornalista onde a ideia de seleção de notícias não abre espaço para outros
aspectos (sociais, culturais, etc) para escolha do que será mostrado, limitando
o papel do profissional. O autor também inclui nesses aspectos “desprezados” o
faro jornalístico, o não seguimento da lógica típica e questiona a Teoria do
Espelho, observando não só a ação pessoal, mas também interesses da empresa.
Traquila
fala também que as notícias só podem ser compreendidas com o entendimento das
forças sociais que influenciam sua produção. Ele cita uma série de teorias
desenvolvidas a respeito dessa influência, entre elas a teoria organizacional,
as de ação política, as construcionistas, a estruturalista e a interacionista.
Depois o
autor discute a questão do acesso ao campo jornalístico como ponto central,
citado por Molotch e Lester. Eles sublinham três tipos de acesso: o habitual, o
disruptivo e o direto. O primeiro acontece quando “o indivíduo ou grupo está
tão localizado que as suas necessidades de acontecimento normalmente coincidem
com as atividades de produção jornalística do pessoal dos meios de comunicação
social”. O segundo trata-se daqueles que
precisam ter o acesso à produção dos fatos para uma experiência social. Desejam
“fabricar” a notícia indo contra os modos tradicionais e buscam gerar a
surpresa. O último é o que se dá por direito a qualquer jornalista, que à
priori, tem o poder de escolha, baseado na sua capacidade, de saber quais
reportagens farão.
Também em
discussão, Gaye Tuchman aparece defendendo que “a formação da rede noticiosa e a forma como os jornalistas nela estão
distribuídos têm importância teórica, dado que são a chave da construção da
notícia”. Ele trata essa distribuição como fundamental para a produção da
notícia, onde a mesma articula-se aos critérios de noticiabilidade. Então ele
passa a observar o nível de extensão dessa rede, onde as relações são
fundamentais na valorização das informações que recebem. A estrutura que
garante a lógica por trás desses lações é estabelecida pela seriedade da
relação com as fontes e jornalistas, daquilo que é feito para cultivar esses
laços e os critérios de avaliação na interação desses profissionais com os
agentes sociais. Gaye Tuchman segue o raciocínio falando da rotinização do
trabalho jornalístico, na rotina em que é preciso doutrinar no sentido de
melhorar a eficácia da prática jornalística diária mesmo contando fatos
diferentes.
Mas para a
teoria interacionista, essa rotinização leva a uma dependência perigosa das
fontes oficiais onde avalia que seria apenas uma instituição “repassando”
informações de outra. Socialmente, o acesso a este campo jornalístico já tem
base firme, mas o autor afirma que as fontes não são todas iguais, mas tem a
mesma importância. Além disso, conclui que este acesso não é igual para todas,
fazendo desta abertura um aval para certo tipo de poder. Por fim, o
interacionismo diz que as notícias não são apenas resultado da interação social
entre jornalistas e fontes, mas entre jornalistas-jornalistas dentro de um
contexto de comunidade profissional, provocando diversas experiências, trocas
de conhecimentos, etc.