quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Capítulo 6 do Livro As Teorias do Jornalismo, de Nelson Traquina

Fichamento

O capítulo 6, As teorias do jornalismo, do livro de Nelson Traquina, apresenta alguns conceitos que norteiam o jornalismo. Frutos de muitos estudos que pretendem mostrar a importância do jornalista, do seu trabalho, o motivo das notícias serem como são e o que justifica diversas formas de manifestação jornalística.
A primeira apresentada é a Teoria do Espelho. Nela, o tipo de notícia produzida é determinada pela realidade que impõe que seja daquele jeito. Ela surgiu em meados do século XIX e veio com a característica de separar os fatos das opiniões, sendo uma das teorias mais importantes para a legitimação do Jornalismo.  O aspecto positivista, da visão “unilateral”, a pura reprodução do mundo real e a ascensão da máquina fotográfica reforçaram a oferta da realidade e a crença na objetividade. Essa ideia de objetividade veio dos Estados Unidos no século XX, durante as décadas de 20 e 30. Sobre a ideolodia da objetividade, Schudson (1972: 122) diz que “os jornalistas substituíram uma fé simples nos fatos por uma fidelidade às regras e procedimentos criados para um mundo no qual até os fatos era m postos em dúvida”. Apesar da fragilidade da teoria que vem sendo posta nos estudos, ela continua sendo um dos pilares de sustentação do jornalismo.
Outro acúmulo acadêmico apresentado é a Teoria da Ação Pessoal ou Gatekeeper, na década de 1950, com David Manning White. Ele foi vanguardista na aplicação do conceito nas pesquisas sobre notícias. O termo “gatekeeper” vem da psicologia do consumidor e aplicado à área, refere-se a um processo de produção da informação onde uma série de escolhas onde o fluxo de notícias pede que haja uma “seleção” e é neste papel que o jornalista passa a ganhar certa visibilidade. É aí que entra mais especificamente o trabalho do Editor, onde o processo de seleção é subjetivo e arbitrário, onde os juízos de valor são baseados no conjunto de experiências, nas atitudes e expectativas do gatekeeper. Tudo isso implica diretamente em algumas decisões que resultam em certa falta de espaço, repetição, desinteresse do jornal, exemplos de rejeição de conteúdo que dependem de uma ação pessoal. A filtragem no fluxo de informação, a influência do suporte midiático e o perfil de cada plataforma também contam para isso. Esta mesma teoria avança na questão do papel do jornalista onde a ideia de seleção de notícias não abre espaço para outros aspectos (sociais, culturais, etc) para escolha do que será mostrado, limitando o papel do profissional. O autor também inclui nesses aspectos “desprezados” o faro jornalístico, o não seguimento da lógica típica e questiona a Teoria do Espelho, observando não só a ação pessoal, mas também interesses da empresa.

Traquila fala também que as notícias só podem ser compreendidas com o entendimento das forças sociais que influenciam sua produção. Ele cita uma série de teorias desenvolvidas a respeito dessa influência, entre elas a teoria organizacional, as de ação política, as construcionistas, a estruturalista e a interacionista.
Depois o autor discute a questão do acesso ao campo jornalístico como ponto central, citado por Molotch e Lester. Eles sublinham três tipos de acesso: o habitual, o disruptivo e o direto. O primeiro acontece quando “o indivíduo ou grupo está tão localizado que as suas necessidades de acontecimento normalmente coincidem com as atividades de produção jornalística do pessoal dos meios de comunicação social”.  O segundo trata-se daqueles que precisam ter o acesso à produção dos fatos para uma experiência social. Desejam “fabricar” a notícia indo contra os modos tradicionais e buscam gerar a surpresa. O último é o que se dá por direito a qualquer jornalista, que à priori, tem o poder de escolha, baseado na sua capacidade, de saber quais reportagens farão.
Também em discussão, Gaye Tuchman aparece defendendo que “a formação da rede noticiosa e a forma como os jornalistas nela estão distribuídos têm importância teórica, dado que são a chave da construção da notícia”. Ele trata essa distribuição como fundamental para a produção da notícia, onde a mesma articula-se aos critérios de noticiabilidade. Então ele passa a observar o nível de extensão dessa rede, onde as relações são fundamentais na valorização das informações que recebem. A estrutura que garante a lógica por trás desses lações é estabelecida pela seriedade da relação com as fontes e jornalistas, daquilo que é feito para cultivar esses laços e os critérios de avaliação na interação desses profissionais com os agentes sociais. Gaye Tuchman segue o raciocínio falando da rotinização do trabalho jornalístico, na rotina em que é preciso doutrinar no sentido de melhorar a eficácia da prática jornalística diária mesmo contando fatos diferentes.

Mas para a teoria interacionista, essa rotinização leva a uma dependência perigosa das fontes oficiais onde avalia que seria apenas uma instituição “repassando” informações de outra. Socialmente, o acesso a este campo jornalístico já tem base firme, mas o autor afirma que as fontes não são todas iguais, mas tem a mesma importância. Além disso, conclui que este acesso não é igual para todas, fazendo desta abertura um aval para certo tipo de poder. Por fim, o interacionismo diz que as notícias não são apenas resultado da interação social entre jornalistas e fontes, mas entre jornalistas-jornalistas dentro de um contexto de comunidade profissional, provocando diversas experiências, trocas de conhecimentos, etc.

Entrevistas com Candidatos a Presidente transmitidas "Ao Vivo" em Telejornais, de Wilson Gomes

Fichamento

O texto de Wilson Gomes – Entrevistas com candidatos a presidente transmitidas “ao vivo” em telejornais, fala de como o formato de entrevista é utilizado pela política com foco nas candidaturas à presidência. Inicialmente, a ideia de pré-produção, edição e enquadramento das entrevistas era utilizado e não permitia em sua pureza que os candidatos pudessem mostrar-se de fato. No entanto, as entrevistas ao vivo no rádio, na tv e web são um caso à parte, onde há uma conversa e o tempo de conversa e transmissão é concomitante e não existe o tratamento de edição ou algum possível excesso que pudesse ocorrer num ao vivo.
No Brasil, esse formato passou a ter o mesmo peso que os consagrados debates entre os candidatos. Os maiores jornais passaram a reservar espaço para que os grandes da corrida eleitoral expusessem suas propostas ao vivo, num formato de entrevista encaixada no noticiário, fazendo muito sucesso. O fato de não haver a edição, declara a razão de focar no presidenciável e esclarecer o interesse público. Neste caso também, o espaço vira uma arena de ideias, onde Política e Jornalismo se confrontam. Então, vê-se que o mediador não é somente um “apresentador”, mas aquele que negocia a forma e o conteúdo das falas dos políticos durante o programa.
Sobre esta mediação de entrevistas não editadas, Daniel C. Hallin defende que o formato das delas mudou a partir do momento em que a televisão passou a ter papel central nas campanhas. De início, a tv se restringia apenas a transmitir os fatos, depois passou tratar os assuntos para depois colocá-los para o público. As matérias de política na tv passaram a ser uma composição das falas de jornalistas e políticos, mais do que uma justaposição. Dessa forma o jornalismo ganha um papel muito mais ativo na peça final e é isso que o autor vai chamar de mediação.
Sobre o assunto, o autor diz poder extrair da palavra que “na materialidade do telejornal há uma tensão entre a instituição do jornalismo e a instância política; esta tensão tem produzido um crescente controle, por parte do jornalismo, da voz dos atores políticos no noticiário.”
Com o aparecimento da entrevista direta, numa arena argumentativa que é a tv, os papeis passaram a ser bem definidos. O jornalista exerce o poder de conduzir, escolher temas, decidir sobre o uso do tempo e abrir espaço para o político falar. Além disso, o espaço não é utilizado apenas para que o telespectador tenha contato direto com quem busca um cargo público, mas também para o jornalista mostrar e exercer seu poder no meio, pois, como primazia da profissão deve fazer questionamentos que esclareçam o eleitor e impedir que o candidato de alguma forma manipule a audiência com respostas mal dadas ou mentirosas. Isto impõe, de certo modo, uma garantia de que a autenticidade prevalece tanto pelo contato mais direto por causa do ao vivo, como pela autoridade “fiscal” do jornalista.
Apesar de estar em casa, são as estratégias de argumentação e de retórica é que vão fazer com que o jornalista mantenha-se no controle do acontecimento. Mas, evidentemente, que pelo mesmo caminho os candidatos tentarão equivaler-se neste poder e tirar vantagem sobre isso. A competição entre as duas instituições (Jornalismo e Política) neste âmbito, começa por quem fala mais. Depois, vem a disputa pelo controle dos argumentos, onde o jornalista terá que usar seu tempo para controlar o tempo do convidado, bem como trabalhar sua imagem e, de acordo com suas escolhas, “manipular” a audiência (nos dois últimos citados o politico também se encaixa). Diversas técnicas são utilizadas para tal, como por exemplo: premissas embutidas nas perguntas, reiteração, reforço, perseguição, interrupção de raciocínio e mudança de assunto. Já os convidados também desenvolveram suas táticas para fugir da pressão dos jornalistas. Entre elas estão: esquiva, capitatio benevolentiae, escapada e questionamento explícito das premissas.

Devido a tantas particularidades e a força que tem tomado, a entrevista eleitoral tem sido vista como um gênero discursivo à parte, onde há certa padronização na atitude dos entrevistadores, bem como nas perguntas a serem realizadas. Apesar desse modelo geral, existem alguns tipos de abordagens do jornalista neste espaço. O primeiro é o de mostrar alguma incoerência ou contradição do candidato, depois vem o que é utilizado para candidatos que já estiveram no governo ou são indicados por eles. Trata-se em responder por trabalhos mal realizados ou aqueles que simplesmente não aconteceram. Em seguida, ligar a candidatura a escândalos, seguido pela tática de mostrar alguma fragilidade mais específica do entrevistado e o último modelo (e menos usado) que trata-se de uma maneira mais subjetiva interpelar o candidato sobre políticas públicas e problemas sociais. Existem também certas padronizações nas perguntas e respostas, mas tudo segue no texto mostrando como o Jornalismo conseguiu desenvolver métodos de controle pelo  discurso sobre a Política para assegurar seu controle argumentativo nesses espaços.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Raquel Recuero – Redes Sociais

Matemáticos e físicos foram os primeiros a dar maior contribuição para os estudos de redes complexas que teve início no século XX. A sociologia terminou por absorver muitos desses dados para análise estrutural das redes sociais. A autora busca mostrar no texto uma comparação entre os estudos dessas redes, aliando sua aplicabilidade às redes sociais na internet. “as implicaçãos de suas aplicações na comunicação mediada por computador, bem como um possível diálogo entre a perspectiva sociológica e a perspectiva matemática utilizada” por diversos autores utilizando exemplos como Orkut, weblogs e fotologs, mostrando pontos positivos e negativos.
Euler, que criou o teorema da teoria dos grafos, foi o responsável pelo início da teoria das redes. A denominação de grafo “é uma representação de um conjunto de nós conectados por arestas que, em conjunto, formam uma rede.” Diante dessa nova perspectiva, diversos teóricos dedicaram-se a descobrir “quais eram as propriedades dos vários tipos de grafos, e como se davam o processo da sua construção, ou seja, como seus nós se agrupavam.” A perspectiva de analogia das coisas como redes seria fundamental para o entendimento das relações sociais. Essa ótica seria aplicada também como base da Análise Estrutural, onde “essa visão possui uma característica instrinscicamente interdisciplinar, muitos passos importantes na descoberta de propriedades e leis dos fenômenos foram dados em outras ciências como biologia e física”.
Essa análise é dividida em dois pontos. O primeiro, foca as redes inteiras (whole networks), onde observa “a relação estrutural  da rede com o grupo social. As redes, de acordo com esta visão, são assinaturas de identidade social – o padrão de relações entre os indivíduos está mapeando as preferências e características dos próprios envolvidos na rede.” Já o segundo aspecto, onde são trabalhadas as redes personalizadas (ego-centered networks),  baseia-se em que o “papel social de um indivíduo poderia ser compreendido não apenas através dos grupos (redes) a que ele pertence, mas igualmente, através das posições que ele tem dentro dessas redes.”
O teórico Garton diz que o estudo “de redes sociais foca principalmente nos padrões de relações entre as pessoas”. E, nesse mesmo caminho, revela-se “uma mudança do individualismo comum nas ciências sociais em busca de uma análise estrutural.” Na busca de uma visão analítica mais ampla, o estudo busca pluralizar suas referências de observação, como: “relações (caracterizados por conteúdo, direção e força), laços sociais (que conectam pares de atores através de uma ou mais relações), multiplexidade (quanto mais relações um laço social possui, maior a sua multiplexidade) e composição do laço social (derivada dos atributos individuais dos atores envolvidos)”.

No entanto, a princípio, os sociólogos acreditavam que a menor unidade de relação dava-se entre dois indivíduos de forma aleatória, chamado de díade. Depois veio a tríade, com duas pessoas que não se conhecem, mas com um amigo em comum, existindo a possibilidade de que se conheçam. “Partindo dessa perspectiva, a análise estrutural das redes sociais procura focar na interação como primado fundamental do estabelecimento das relações sociais entre os agentes humanos, que originarão as redes sociais, tanto no mundo concreto, quanto no mundo virtual.”

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Wikinomics


O autor começa explanando sobre a história da GoldenCorp e explica que seu maior legado tenha sido “a legitimação de uma abordagem engenhosa com relação à exploração, em uma indústria que continua a ser conservadora e altamente fechada.” A descoberta de uma nova fonte de ouro fez com que McEwen percebesse que, embora seus empregados estivessem qualificados para a busca de novos jazidas, mas “estavam provavelmente fora dos limites da sua organização e, ao compartilhar propriedade intelectual, pôde explorar o poder da genialidade e da competência coletivas.” Isso foi uma grande inovação no mundo dos negócios, onde um futuro inovador promissor se apresentava, mudando também a maneira de como as riquezas seriam acumuladas. Eis, então, o Wikinomics, onde o colaborativo em massa transformará todas as instituições das sociedades.
As diversas mudanças econômicas, demográficas, tecnológicas e de negócios no mundo, permitiram com que as pessoas participassem mais diretamente da economia. “Essa nova participação atingiu um ápice no qual novas forma de colaboração em massa estão mudando a maneira como bens e serviços são inventados, produzidos, comercializados e distribuídos globalmente.” Guerras e protestos eram o modo em que mais se aproximava a participação em massa antigamente, e em pequena escala a participação também se dava por pessoas próximas, em ocasiões raras. “O acesso crescente à tecnologia da informação coloca na ponta dos dedos de todos as ferramentas necessárias para colaborar, criar valor e competir.” Isso permite que as pessoas participem da criação e da inovação de diversos setores da economia.
O baixo custo das “armas de colaboração em massa”, como telefonia gratuita pela internet, códigos de software livre, etc, permitiram que vários indivíduos e pequenos produtores sejam capazes de criar coletivamente produtos, tenham acesso ao mercado e, principalmente, ao possível cliente. Antigamente, isso só era possível para as grandes empresas. Essa nova dinâmica está “fazendo surgir novas capacidades colaborativas e modelos de negócios que darão poder às empresas bem preparadas e destruirão aquelas que não forem capazes de se adaptar.” Agora, os produtores e gerenciadores do conhecimento, que exerciam isso com “profissionalismo”, passaram a dividir seu espaço com milhões de amadores que compartilham e produzem notícias, conhecimento, habilidades tecnológicas o tempo inteiro.
Essas mudanças abrem “caminho em direção a um mundo no qual conhecimento, poder e capacidade produtiva estarão mais dispersos do que em qualquer outro período da nossa história – um mundo no qual a criação de valor será rápida, fluida e persistentemente perturbadora. Um mundo no qual apenas os conectados sobreviverão.” Ou seja, ao invés de você simplesmente acessar algum conteúdo on line, você poderá produzi-lo e influenciar diretamente sobre seu andamento nas mídias, sendo mais um colaborador na rede.

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Cultura livre – Lawrence Lessig


O autor discute aquilo que chamamos de “propriedade”. Como exemplo,  “Na época em que os irmãos Wright inventaram o avião, a lei americana pressupunha que um  dono de uma propriedade não era dono apenas das superfícies de suas terras, mas de todo o chão abaixo, até o centro da terra, e todo espaço acima, por uma extensão indefinida para cima.” No entanto, “a força do que parecia ‘óbvio’ para qualquer outra pessoa – o poder do bom senso – iria prevalecer. Seu ‘interesse privado’ não podia derrubar um ganho público óbvio.”

Edward Howard Armstrong, um dos inventores mais importantes do século passado e esquecido pela sociedade, criou o Rádio Fm. A descoberta, superior a de uma tecnologia Am, preocupou o presidente da RCA, empresa para qual Armstrong trabalhava. Sabendo que ali nascia uma revolução no campo radiofônico, que seria concorrente direta com a RCA, a empresa lançou uma campanha para sufocar o FM (apesar de ser uma tecnologia melhor) por questões estratégicas. “O rádio FM, se permitido fosse que ele se desenvolvesse livremente, ameaçava causar (...) uma completa reorganização do poder no rádio (...) e a eventual derrubada do sistema cuidadosamente restrito de rádios AM no qual a RCA cresceu em poder.”

A empresa manteve por algum tempo a tecnologia, mas começou uma articulação política para acabar com a nova tecnologia e manter seu império. Armstrong, indignado com a situação, avaliou que “A série de golpes que o rádio FM recebeu logo após à guerra em uma série de normas criadas pela FCC, segundo os interesses das grandes rádios, foi quase incrível em sua força e malícia.” Tanto foi o empenho dos empresários em extinguir o FM, que terminaram por paralisar a disseminação do mesmo, pelo menos temporariamente. Com isso, o inventor enfrentou a RCA, que questionou suas patentes. Após muitos anos de briga nos tribunais, a empresa ofereceu um acordo que mal cobria os custos com advogados. Falido, Armstrong suicidou-se.


O autor fala sobre certa “fragilidade” da lei quando, em determinadas situações, sofre influência quando alguma mudança legal ou técnica ameaça interesses de grandes empresários. A ideia maior era reduzir o impacto da mudança tecnológica. A internet não tem um inventor específico, nem a data de sua criação. Apesar disso, demorou bastante para a internet se popularizar nos EUA. No entanto, já integrada à vida da sociedade, passou a gerar mudanças no cotidiano. Daí nasceu o debate sobre a cultura do que seria ou não comercial. A definição dada no texto é de que “por cultura comercial entenda-se aquela parte de nossa cultura que é produzida e vendida ou, mais longe, é produzida para ser vendida. Por cultura não-comercial entenda-se todo o resto.” A Cultura não-comercial nunca foi regulamentada, nem tão discutida. Por exemplo, “Os meios cotidianos nos quais as pessoas comuns compartilhavam e transformavam a sua cultura - contando histórias, reecenando cenas de peças de teatro ou tv, formando fã-clubes, compartilhando músicas, gravando fitas – eram ignoradas pela lei.”

Comunicação Digital - Eugenio Bucci


O autor começa explanando sobre a entrada do que é digital na comunicação e na cultura. Depois, levanta o questionamento de que é preciso discutir o fato de que as máquinas nos enxergam e como elas nos enxergam. Por exemplo, através de exames de raio-x, endoscopia... há uma intimidade que é observada, inclusive a física. No entanto, faz o contraponto citando o benefício do acesso ao acervo das bibliotecas digitais, que não teríamos condições de armazenar na memória. Porém, traz a desvantagem, pois, com esta facilidade, criou-se também uma dependência da tecnologia, aparecendo outras necessidades. Ou seja, as máquinas passaram a ocupar também a nossa memória.

Bucci critica a falsa ideia de revolução o que existe em torno da internet e das novas mídias digitais, como se esses instrumentos fossem responsáveis por trazer voz e igualdade para toda uma sociedade. No entanto, não é dessa forma que acontece, pois, há pouca diferença de outras inovações, sendo assim há muito mais uma continuidade do que ruptura. Para que isso aconteça é necessário rever o que se tem por inclusão digital. “O grau de acesso e influência que você pode exercer na rede, depende do seu repertório dentro desse arsenal, em que nível você opera todos esses programas, que grau de alcance a sua máquina e seu protocolo lhe dá”, conclui. Não se sabe se as pessoas deixarão de assistir menos tv, ou escutar menos o rádio, fato é que a mudança está na mídia, mas é certo de que a imagem tem grande poder na internet e, mesmo o texto tendo seu espaço, a fotografia é uma grande auxiliar na compreensão como um todo..

Vista sob a perspectiva plana, a internet permite o acesso e compreensão do seu conteúdo de maneira igualitária. No entanto, há uma diferenciação vertical que contradiz isso e se dá “pelo grau de tecnologia que você pode manusear, depois pela familiaridade com que você tem acesso a milhões de dispositivos. Como você comanda os programas, além de ser comandado por eles e depois, como a concentração de capital propicia que alguns agrupamentos tenham mais destaque na difusão da informação e na administração dos grandes nós dessa rede.” Sobre a possibilidade de transformação cultural, comunicacional e de espaços públicos através do processo colaborativo, Bucci diz que está havendo o oxigenação desses aspectos, onde antigas barreiras estão sendo ultrapassadas. Ele diz que “não é a tecnologia que muda a sociedade. Nunca foi. A sociedade, ou os movimentos sociais, ou as relações sociais, é o que dão sentido social e histórico para a tecnologia, e não o contrário.”

Sobre essa “companhia” da tecnologia praticamente em tempo integral na vida do homem, que ele trata como “Irmão”, ela precisa ser melhor acompanhada e estudada, além de problematizar o fato de para quem estes avanços tecnológicos trabalham. Como a tecnologia nos vê? Quem enxerga tudo o que produzimos? “A tecnologia por si, ela não muda coisa alguma, ela espelha ou cristaliza tensões que estavam postas”, conclui. Dentro desse aspecto, entra a observação sobre a mundialização do que é ou não espaço público. “Efetivamente existe uma comunicação que expandiu o espaço público antes nacional para um espaço público cada vez mais internacional, e cada vez mais as questões são de âmbito mundial”, diz. No entanto, o Estado é incapaz de dar conta do alcance que a democratização das tecnologias permitiu neste espaço cada vez mais internacionalizado.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A internet, e Depois?, de Dominique Wolton


Dominique Wolton vem discutir em “A Internet e depois?” o modo como as pessoas se comunicam e o que há de mais importante nisso, incluindo também a maneira em que as relações coletivas são organizadas. Segundo o autor, a comunicação é vista e dividida sobre três perspectivas: a técnica, a cultural e a social. A mudança mais marcante ocorreu no último século com o desenvolvimento técnico, no entanto os outros pontos têm a mesma importância. Mudanças significativas na comunicação deste século, como o estabelecimento da comunicação de massa, além da globalização cultural, econômica e certa abertura política em todo o mundo, vêm sendo as causas de grandes transformações na sociedade.
Wolton diz que as transformações sociais e culturais poderão ressignificar as novas tecnologias, pois, “... não são, no presente, nem o estado nem a vanguarda da comunicação de amanhã: são o outro lado, o complemento dos meios de comunicação de massa em relação ao modelo da sociedade individualista de massa.” Após duas décadas,  a comunicação foi invadida por um discurso tecnicista, alimentando o estereótipo de que “A tecnologia está avançando, é o progresso (...) Utilizamos as novas tecnologias nos serviços, no comércio, na administração, na educação, no banco para que saltem as fechaduras e se modernize a sociedade.”
O autor cita alguns pontos que resumem seu escrito. No primeiro, ele fala que “O objetivo da comunicação não é tecnológico, mas diz respeito à compreensão das relações entre os indivíduos (modelo cultural) e entre estes e a sociedade (projeto social). É a escolha entre socializar e humanizar a tecnologia ou tecnificar a comunicação.” Depois, ele ressalta que é preciso deixar de lado a ideologia tecnológica que minimiza a comunicação e a tecnologia que constrói uma falsa hierarquia entre novas e velhas mídias, pois, mesmo que várias imagens estejam em diversos monitores em lugares diferentes, por exemplo, não quer dizer que haja uma comunicação melhor. Então, ele trata sobre o desenvolvimento do saber acerca da Comunicação, onde conclui que mesmo que haja um grande avanço no aparelhamento tecnológico isso não significa que há proporcionalmente um aprimoramento da comunicação de fato. Em seguida, ele cita que os meios de comunicação são complementares e “Cada uma destas tecnologias insiste em dimensões diferentes, individuais no caso das novas tecnologias, e coletiva no caso dos meios de comunicação de massa.”

Sobre a relação entre emissor, mensagem e receptor, o autor diz que não há lógica. A comprovação dá-se pelo fato de que, mesmo após muito tempo de domínio, a mídia acabou por padronizar opiniões, envergonhando a Escola de Frankfurt. A mensagem tem sua influência, mas o modo como ela é transmitida e recebida precisa receber mais atenção dos estudos, pois, mesmo que seja a mesma ela não é absorvida da mesma forma em diferentes países. Por fim, comenta que a “sociedade internacional” está em constante mudança e a globalização da comunicação jamais representará esta ideia, pois, há um ideal democrático incrustrado que traz preceitos de organização pacífica dos sistemas políticos, das religiões e valores, enquanto a globalização da comunicação tem seu foco na funcionalidade.