Fichamento
O texto de
Wilson Gomes – Entrevistas com candidatos a presidente transmitidas “ao vivo”
em telejornais, fala de como o formato de entrevista é utilizado pela política
com foco nas candidaturas à presidência. Inicialmente, a ideia de pré-produção,
edição e enquadramento das entrevistas era utilizado e não permitia em sua
pureza que os candidatos pudessem mostrar-se de fato. No entanto, as
entrevistas ao vivo no rádio, na tv e web são um caso à parte, onde há uma
conversa e o tempo de conversa e transmissão é concomitante e não existe o
tratamento de edição ou algum possível excesso que pudesse ocorrer num ao vivo.
No Brasil,
esse formato passou a ter o mesmo peso que os consagrados debates entre os
candidatos. Os maiores jornais passaram a reservar espaço para que os grandes
da corrida eleitoral expusessem suas propostas ao vivo, num formato de
entrevista encaixada no noticiário, fazendo muito sucesso. O fato de não haver
a edição, declara a razão de focar no presidenciável e esclarecer o interesse
público. Neste caso também, o espaço vira uma arena de ideias, onde Política e
Jornalismo se confrontam. Então, vê-se que o mediador não é somente um
“apresentador”, mas aquele que negocia a forma e o conteúdo das falas dos
políticos durante o programa.
Sobre esta
mediação de entrevistas não editadas, Daniel C. Hallin defende que o formato
das delas mudou a partir do momento em que a televisão passou a ter papel
central nas campanhas. De início, a tv se restringia apenas a transmitir os
fatos, depois passou tratar os assuntos para depois colocá-los para o público.
As matérias de política na tv passaram a ser uma composição das falas de
jornalistas e políticos, mais do que uma justaposição. Dessa forma o jornalismo
ganha um papel muito mais ativo na peça final e é isso que o autor vai chamar
de mediação.
Sobre o
assunto, o autor diz poder extrair da palavra que “na materialidade do
telejornal há uma tensão entre a instituição do jornalismo e a instância
política; esta tensão tem produzido um crescente controle, por parte do
jornalismo, da voz dos atores políticos no noticiário.”
Com o
aparecimento da entrevista direta, numa arena argumentativa que é a tv, os
papeis passaram a ser bem definidos. O jornalista exerce o poder de conduzir,
escolher temas, decidir sobre o uso do tempo e abrir espaço para o político
falar. Além disso, o espaço não é utilizado apenas para que o telespectador
tenha contato direto com quem busca um cargo público, mas também para o
jornalista mostrar e exercer seu poder no meio, pois, como primazia da
profissão deve fazer questionamentos que esclareçam o eleitor e impedir que o
candidato de alguma forma manipule a audiência com respostas mal dadas ou
mentirosas. Isto impõe, de certo modo, uma garantia de que a autenticidade prevalece
tanto pelo contato mais direto por causa do ao vivo, como pela autoridade
“fiscal” do jornalista.
Apesar de
estar em casa, são as estratégias de argumentação e de retórica é que vão fazer
com que o jornalista mantenha-se no controle do acontecimento. Mas,
evidentemente, que pelo mesmo caminho os candidatos tentarão equivaler-se neste
poder e tirar vantagem sobre isso. A competição entre as duas instituições
(Jornalismo e Política) neste âmbito, começa por quem fala mais. Depois, vem a
disputa pelo controle dos argumentos, onde o jornalista terá que usar seu tempo
para controlar o tempo do convidado, bem como trabalhar sua imagem e, de acordo
com suas escolhas, “manipular” a audiência (nos dois últimos citados o politico
também se encaixa). Diversas técnicas são utilizadas para tal, como por
exemplo: premissas embutidas nas perguntas, reiteração, reforço, perseguição,
interrupção de raciocínio e mudança de assunto. Já os convidados também
desenvolveram suas táticas para fugir da pressão dos jornalistas. Entre elas
estão: esquiva, capitatio benevolentiae,
escapada e questionamento explícito das premissas.
Devido a
tantas particularidades e a força que tem tomado, a entrevista eleitoral tem
sido vista como um gênero discursivo à parte, onde há certa padronização na
atitude dos entrevistadores, bem como nas perguntas a serem realizadas. Apesar
desse modelo geral, existem alguns tipos de abordagens do jornalista neste
espaço. O primeiro é o de mostrar alguma incoerência ou contradição do candidato,
depois vem o que é utilizado para candidatos que já estiveram no governo ou são
indicados por eles. Trata-se em responder por trabalhos mal realizados ou
aqueles que simplesmente não aconteceram. Em seguida, ligar a candidatura a
escândalos, seguido pela tática de mostrar alguma fragilidade mais específica
do entrevistado e o último modelo (e menos usado) que trata-se de uma maneira
mais subjetiva interpelar o candidato sobre políticas públicas e problemas
sociais. Existem também certas padronizações nas perguntas e respostas, mas
tudo segue no texto mostrando como o Jornalismo conseguiu desenvolver métodos
de controle pelo discurso sobre a
Política para assegurar seu controle argumentativo nesses espaços.
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