quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Entrevistas com Candidatos a Presidente transmitidas "Ao Vivo" em Telejornais, de Wilson Gomes

Fichamento

O texto de Wilson Gomes – Entrevistas com candidatos a presidente transmitidas “ao vivo” em telejornais, fala de como o formato de entrevista é utilizado pela política com foco nas candidaturas à presidência. Inicialmente, a ideia de pré-produção, edição e enquadramento das entrevistas era utilizado e não permitia em sua pureza que os candidatos pudessem mostrar-se de fato. No entanto, as entrevistas ao vivo no rádio, na tv e web são um caso à parte, onde há uma conversa e o tempo de conversa e transmissão é concomitante e não existe o tratamento de edição ou algum possível excesso que pudesse ocorrer num ao vivo.
No Brasil, esse formato passou a ter o mesmo peso que os consagrados debates entre os candidatos. Os maiores jornais passaram a reservar espaço para que os grandes da corrida eleitoral expusessem suas propostas ao vivo, num formato de entrevista encaixada no noticiário, fazendo muito sucesso. O fato de não haver a edição, declara a razão de focar no presidenciável e esclarecer o interesse público. Neste caso também, o espaço vira uma arena de ideias, onde Política e Jornalismo se confrontam. Então, vê-se que o mediador não é somente um “apresentador”, mas aquele que negocia a forma e o conteúdo das falas dos políticos durante o programa.
Sobre esta mediação de entrevistas não editadas, Daniel C. Hallin defende que o formato das delas mudou a partir do momento em que a televisão passou a ter papel central nas campanhas. De início, a tv se restringia apenas a transmitir os fatos, depois passou tratar os assuntos para depois colocá-los para o público. As matérias de política na tv passaram a ser uma composição das falas de jornalistas e políticos, mais do que uma justaposição. Dessa forma o jornalismo ganha um papel muito mais ativo na peça final e é isso que o autor vai chamar de mediação.
Sobre o assunto, o autor diz poder extrair da palavra que “na materialidade do telejornal há uma tensão entre a instituição do jornalismo e a instância política; esta tensão tem produzido um crescente controle, por parte do jornalismo, da voz dos atores políticos no noticiário.”
Com o aparecimento da entrevista direta, numa arena argumentativa que é a tv, os papeis passaram a ser bem definidos. O jornalista exerce o poder de conduzir, escolher temas, decidir sobre o uso do tempo e abrir espaço para o político falar. Além disso, o espaço não é utilizado apenas para que o telespectador tenha contato direto com quem busca um cargo público, mas também para o jornalista mostrar e exercer seu poder no meio, pois, como primazia da profissão deve fazer questionamentos que esclareçam o eleitor e impedir que o candidato de alguma forma manipule a audiência com respostas mal dadas ou mentirosas. Isto impõe, de certo modo, uma garantia de que a autenticidade prevalece tanto pelo contato mais direto por causa do ao vivo, como pela autoridade “fiscal” do jornalista.
Apesar de estar em casa, são as estratégias de argumentação e de retórica é que vão fazer com que o jornalista mantenha-se no controle do acontecimento. Mas, evidentemente, que pelo mesmo caminho os candidatos tentarão equivaler-se neste poder e tirar vantagem sobre isso. A competição entre as duas instituições (Jornalismo e Política) neste âmbito, começa por quem fala mais. Depois, vem a disputa pelo controle dos argumentos, onde o jornalista terá que usar seu tempo para controlar o tempo do convidado, bem como trabalhar sua imagem e, de acordo com suas escolhas, “manipular” a audiência (nos dois últimos citados o politico também se encaixa). Diversas técnicas são utilizadas para tal, como por exemplo: premissas embutidas nas perguntas, reiteração, reforço, perseguição, interrupção de raciocínio e mudança de assunto. Já os convidados também desenvolveram suas táticas para fugir da pressão dos jornalistas. Entre elas estão: esquiva, capitatio benevolentiae, escapada e questionamento explícito das premissas.

Devido a tantas particularidades e a força que tem tomado, a entrevista eleitoral tem sido vista como um gênero discursivo à parte, onde há certa padronização na atitude dos entrevistadores, bem como nas perguntas a serem realizadas. Apesar desse modelo geral, existem alguns tipos de abordagens do jornalista neste espaço. O primeiro é o de mostrar alguma incoerência ou contradição do candidato, depois vem o que é utilizado para candidatos que já estiveram no governo ou são indicados por eles. Trata-se em responder por trabalhos mal realizados ou aqueles que simplesmente não aconteceram. Em seguida, ligar a candidatura a escândalos, seguido pela tática de mostrar alguma fragilidade mais específica do entrevistado e o último modelo (e menos usado) que trata-se de uma maneira mais subjetiva interpelar o candidato sobre políticas públicas e problemas sociais. Existem também certas padronizações nas perguntas e respostas, mas tudo segue no texto mostrando como o Jornalismo conseguiu desenvolver métodos de controle pelo  discurso sobre a Política para assegurar seu controle argumentativo nesses espaços.

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