sexta-feira, 28 de novembro de 2014

Cultura livre – Lawrence Lessig


O autor discute aquilo que chamamos de “propriedade”. Como exemplo,  “Na época em que os irmãos Wright inventaram o avião, a lei americana pressupunha que um  dono de uma propriedade não era dono apenas das superfícies de suas terras, mas de todo o chão abaixo, até o centro da terra, e todo espaço acima, por uma extensão indefinida para cima.” No entanto, “a força do que parecia ‘óbvio’ para qualquer outra pessoa – o poder do bom senso – iria prevalecer. Seu ‘interesse privado’ não podia derrubar um ganho público óbvio.”

Edward Howard Armstrong, um dos inventores mais importantes do século passado e esquecido pela sociedade, criou o Rádio Fm. A descoberta, superior a de uma tecnologia Am, preocupou o presidente da RCA, empresa para qual Armstrong trabalhava. Sabendo que ali nascia uma revolução no campo radiofônico, que seria concorrente direta com a RCA, a empresa lançou uma campanha para sufocar o FM (apesar de ser uma tecnologia melhor) por questões estratégicas. “O rádio FM, se permitido fosse que ele se desenvolvesse livremente, ameaçava causar (...) uma completa reorganização do poder no rádio (...) e a eventual derrubada do sistema cuidadosamente restrito de rádios AM no qual a RCA cresceu em poder.”

A empresa manteve por algum tempo a tecnologia, mas começou uma articulação política para acabar com a nova tecnologia e manter seu império. Armstrong, indignado com a situação, avaliou que “A série de golpes que o rádio FM recebeu logo após à guerra em uma série de normas criadas pela FCC, segundo os interesses das grandes rádios, foi quase incrível em sua força e malícia.” Tanto foi o empenho dos empresários em extinguir o FM, que terminaram por paralisar a disseminação do mesmo, pelo menos temporariamente. Com isso, o inventor enfrentou a RCA, que questionou suas patentes. Após muitos anos de briga nos tribunais, a empresa ofereceu um acordo que mal cobria os custos com advogados. Falido, Armstrong suicidou-se.


O autor fala sobre certa “fragilidade” da lei quando, em determinadas situações, sofre influência quando alguma mudança legal ou técnica ameaça interesses de grandes empresários. A ideia maior era reduzir o impacto da mudança tecnológica. A internet não tem um inventor específico, nem a data de sua criação. Apesar disso, demorou bastante para a internet se popularizar nos EUA. No entanto, já integrada à vida da sociedade, passou a gerar mudanças no cotidiano. Daí nasceu o debate sobre a cultura do que seria ou não comercial. A definição dada no texto é de que “por cultura comercial entenda-se aquela parte de nossa cultura que é produzida e vendida ou, mais longe, é produzida para ser vendida. Por cultura não-comercial entenda-se todo o resto.” A Cultura não-comercial nunca foi regulamentada, nem tão discutida. Por exemplo, “Os meios cotidianos nos quais as pessoas comuns compartilhavam e transformavam a sua cultura - contando histórias, reecenando cenas de peças de teatro ou tv, formando fã-clubes, compartilhando músicas, gravando fitas – eram ignoradas pela lei.”

Comunicação Digital - Eugenio Bucci


O autor começa explanando sobre a entrada do que é digital na comunicação e na cultura. Depois, levanta o questionamento de que é preciso discutir o fato de que as máquinas nos enxergam e como elas nos enxergam. Por exemplo, através de exames de raio-x, endoscopia... há uma intimidade que é observada, inclusive a física. No entanto, faz o contraponto citando o benefício do acesso ao acervo das bibliotecas digitais, que não teríamos condições de armazenar na memória. Porém, traz a desvantagem, pois, com esta facilidade, criou-se também uma dependência da tecnologia, aparecendo outras necessidades. Ou seja, as máquinas passaram a ocupar também a nossa memória.

Bucci critica a falsa ideia de revolução o que existe em torno da internet e das novas mídias digitais, como se esses instrumentos fossem responsáveis por trazer voz e igualdade para toda uma sociedade. No entanto, não é dessa forma que acontece, pois, há pouca diferença de outras inovações, sendo assim há muito mais uma continuidade do que ruptura. Para que isso aconteça é necessário rever o que se tem por inclusão digital. “O grau de acesso e influência que você pode exercer na rede, depende do seu repertório dentro desse arsenal, em que nível você opera todos esses programas, que grau de alcance a sua máquina e seu protocolo lhe dá”, conclui. Não se sabe se as pessoas deixarão de assistir menos tv, ou escutar menos o rádio, fato é que a mudança está na mídia, mas é certo de que a imagem tem grande poder na internet e, mesmo o texto tendo seu espaço, a fotografia é uma grande auxiliar na compreensão como um todo..

Vista sob a perspectiva plana, a internet permite o acesso e compreensão do seu conteúdo de maneira igualitária. No entanto, há uma diferenciação vertical que contradiz isso e se dá “pelo grau de tecnologia que você pode manusear, depois pela familiaridade com que você tem acesso a milhões de dispositivos. Como você comanda os programas, além de ser comandado por eles e depois, como a concentração de capital propicia que alguns agrupamentos tenham mais destaque na difusão da informação e na administração dos grandes nós dessa rede.” Sobre a possibilidade de transformação cultural, comunicacional e de espaços públicos através do processo colaborativo, Bucci diz que está havendo o oxigenação desses aspectos, onde antigas barreiras estão sendo ultrapassadas. Ele diz que “não é a tecnologia que muda a sociedade. Nunca foi. A sociedade, ou os movimentos sociais, ou as relações sociais, é o que dão sentido social e histórico para a tecnologia, e não o contrário.”

Sobre essa “companhia” da tecnologia praticamente em tempo integral na vida do homem, que ele trata como “Irmão”, ela precisa ser melhor acompanhada e estudada, além de problematizar o fato de para quem estes avanços tecnológicos trabalham. Como a tecnologia nos vê? Quem enxerga tudo o que produzimos? “A tecnologia por si, ela não muda coisa alguma, ela espelha ou cristaliza tensões que estavam postas”, conclui. Dentro desse aspecto, entra a observação sobre a mundialização do que é ou não espaço público. “Efetivamente existe uma comunicação que expandiu o espaço público antes nacional para um espaço público cada vez mais internacional, e cada vez mais as questões são de âmbito mundial”, diz. No entanto, o Estado é incapaz de dar conta do alcance que a democratização das tecnologias permitiu neste espaço cada vez mais internacionalizado.

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

A internet, e Depois?, de Dominique Wolton


Dominique Wolton vem discutir em “A Internet e depois?” o modo como as pessoas se comunicam e o que há de mais importante nisso, incluindo também a maneira em que as relações coletivas são organizadas. Segundo o autor, a comunicação é vista e dividida sobre três perspectivas: a técnica, a cultural e a social. A mudança mais marcante ocorreu no último século com o desenvolvimento técnico, no entanto os outros pontos têm a mesma importância. Mudanças significativas na comunicação deste século, como o estabelecimento da comunicação de massa, além da globalização cultural, econômica e certa abertura política em todo o mundo, vêm sendo as causas de grandes transformações na sociedade.
Wolton diz que as transformações sociais e culturais poderão ressignificar as novas tecnologias, pois, “... não são, no presente, nem o estado nem a vanguarda da comunicação de amanhã: são o outro lado, o complemento dos meios de comunicação de massa em relação ao modelo da sociedade individualista de massa.” Após duas décadas,  a comunicação foi invadida por um discurso tecnicista, alimentando o estereótipo de que “A tecnologia está avançando, é o progresso (...) Utilizamos as novas tecnologias nos serviços, no comércio, na administração, na educação, no banco para que saltem as fechaduras e se modernize a sociedade.”
O autor cita alguns pontos que resumem seu escrito. No primeiro, ele fala que “O objetivo da comunicação não é tecnológico, mas diz respeito à compreensão das relações entre os indivíduos (modelo cultural) e entre estes e a sociedade (projeto social). É a escolha entre socializar e humanizar a tecnologia ou tecnificar a comunicação.” Depois, ele ressalta que é preciso deixar de lado a ideologia tecnológica que minimiza a comunicação e a tecnologia que constrói uma falsa hierarquia entre novas e velhas mídias, pois, mesmo que várias imagens estejam em diversos monitores em lugares diferentes, por exemplo, não quer dizer que haja uma comunicação melhor. Então, ele trata sobre o desenvolvimento do saber acerca da Comunicação, onde conclui que mesmo que haja um grande avanço no aparelhamento tecnológico isso não significa que há proporcionalmente um aprimoramento da comunicação de fato. Em seguida, ele cita que os meios de comunicação são complementares e “Cada uma destas tecnologias insiste em dimensões diferentes, individuais no caso das novas tecnologias, e coletiva no caso dos meios de comunicação de massa.”

Sobre a relação entre emissor, mensagem e receptor, o autor diz que não há lógica. A comprovação dá-se pelo fato de que, mesmo após muito tempo de domínio, a mídia acabou por padronizar opiniões, envergonhando a Escola de Frankfurt. A mensagem tem sua influência, mas o modo como ela é transmitida e recebida precisa receber mais atenção dos estudos, pois, mesmo que seja a mesma ela não é absorvida da mesma forma em diferentes países. Por fim, comenta que a “sociedade internacional” está em constante mudança e a globalização da comunicação jamais representará esta ideia, pois, há um ideal democrático incrustrado que traz preceitos de organização pacífica dos sistemas políticos, das religiões e valores, enquanto a globalização da comunicação tem seu foco na funcionalidade. 

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Jenkins: a cultura da participação, de Luciano Yoshio Matsuzaki



O autor começa ressaltando que a cultura de convergência vai muito além de mudanças e desenvolvimento das plataformas de mídia. Ele ressalta que perpassa também pela convergência de mídia, pela cultura participativa e envolve também a inteligência coletiva englobando-se aí aspectos culturais e sociológicos. Principalmente no que diz respeito à produção de conteúdo advindo daquilo fluxo midiático da web.  Isso trouxe à tona a tensão entre velhas e novas mídias que acabaram forçando os conglomerados midiáticos a estudarem o comportamento dos consumidores. Esse tipo de investimento apareceu com a necessidade de criar estratégias para compreender e alcançar o público-alvo. A quantidade de informações disponíveis e o número de ferramentas que permitem o acesso do consumidor de várias maneiras, acaba por transformar a relação com seu objeto de consumo. No texto, o autor explica que convergência vai muito além de um fenômeno tecnológico e de plataformas, pois, leva também a uma transformação social e cultural. Então, Jenkins faz sua análise tendo como objeto seriados e filmes americanos e aplica conceitos como: knowledge communities, affective economics, transmedia storytelling e a cultura participativa.
O primeiro, knowledge communities, consiste em antecipar partes dos programas. Uma espécie de vazamento de informações, onde geralmente os fãs mais aficionados de algum programa/filme/etc se empenham na busca de novidades e divulgam isso pelas mais diversas formas. Nesse aspecto, é analisado o modo de compartilhamento e questões éticas ao espalhar o material e de que forma a comunidade interessada no assunto reage a esse tipo de prática. Ele também observou que isso passou a influencias também o setor comercial do produto e concluiu que “as comunidades de conhecimento são o centro do processo de toda a convergência popular de mídia. Os produtores televisivos querem direcionar o tráfico do programa de televisão para a internet e outros pontos de entrada da franquia. Ou seja, pode ser um telefone celular, um console de jogos, um programa de rádio no formato podcast, embora os interesses entre produtores e consumidores não são os mesmos e às vezes se sobrepõem.”
Sobre o affective communities, o autor relata que a convergência não ocorre somente quando existem produtos e serviços num espaço regulado, mas quando o público estácom a própria mídia em mãos e tem poder sobre ela, onde ressalta que esse conteúdo de entretenimento não está somente nas plataformas de mídia, mas tem envolvimento também com nossas próprias histórias de vida, memórias, acontecimentos do cotidiano que perpassam por esses canais do mesmo modo, chegando a ser visto como uma nova perspectiva da teoria de marketing, além de os fãs terem grande influência sobre a programação.
O transmedia storytelling é quando um produto (uma narrativa transmidiática, por exemplo) é feito para não caber dentro de uma só mídia, tendo espaço para desdobramentos em diversos âmbitos, possibilitando inclusive produções paralelas, onde cada produção contribui para o material no todo. Nessa perspectiva, o autor observa que o produto como um todo pode ser “subdividido” em jogos, revistas, quadrinhos, blos e todos têm independência, pois, podem ser compreendidos perfeitamente pelos consumidores. Produtos esses que são resultado de parcerias entre autores e consumidores, onde o segundo contribui diretamente para a expansão do conteúdo.
Na Cultura Participativa, Jenkins observa o quanto os fãs/consumidores assíduos de produtos de entretenimento, tem sua importância no mercado. Esse público é um segmento de grande potencial lucrativo. Ele produz, ainda que amadoramente, seu conteúdo midiático e é dessa forma que estabelece um novo tipo de relação com os produtores de livros, filmes, séries, pois passa a querer ter um completo envolvimento com aquilo que admira. A internet permitiu esse tipo de interferência que praticamente fundiu o papel de produtor e consumidor midiático.

segunda-feira, 10 de novembro de 2014

O Culto do Amador de Andrew Keen


Keen, o autor começa a contar sua trajetória ao criar o Audiocafe.com., um dos primeiros sites com música digital. Através dele, passou a difundir sua ideia de que gostaria de compartilhar e ter músicas acessíveis em todos os lugares e melhorar o mundo com isso, o que basicamente é o “lema” da internet: ter acesso a diversos conteúdos em várias plataformas e mídias. Isso chamou atenção de muitos investidores, o que acabou tornando-o rico. Depois o autor descreve como acontece o evento de O’Rilley, no Vale do Silício, onde diversos apreciadores/especialistas da tecnologia e empresários da nova mídia se reuniam com um sentimento em comum que era o de “uma hostilidade partilhada em relação à mídia e aos entretenimentos tradicionais. Mistura de Woodstock com Burning Man (o festival contemporâneo de autoexpressão realizado num deserto em Nevada) e com um pouco de retiro da Stanford Business School, o FOO Camp é onde os partidários da contracultura dos anos 1960 se encontram com os entusiastas do livre-mercado dos anos 1980 e os tecnófilos dos 1990.”

Eles comemoravam enfim a volta da internet, agora batizada por Tim O’Reilly, de Web 2.0. com isso, o sonho de que todos os americanos estivessem conectados, com acesso à banda larga, estava tornando-se realidade. Daí, a palavra-chave do encontro foi “democratização”. As perspectivas diante do acontecimento ampliou-se também para o quanto esta democratização poderia ser revolucionária. “Mídia, informação, conhecimento, público, autor – tudo iria ser democratizado pela Web 2.0. A internet ia democratizar a grande mídia, as grandes empresas, o grande governo”, explica o autor. No entanto, Keen seguia com a ideia de utilizar a tecnologia para ampliar a música entre as massas. Mas isso foi abafado pelo grupo que solidificava a ideia da democratização da mídia, onde a posição de usuário e de autor passaram a se confundir.

Num evento onde todos obrigatoriamente participavam e eram ali a nova mídia, aos poucos o Keen percebeu que os sobreviventes seriam aqueles que fizessem mais “barulho”, num espaço onde todos faziam seus próprios filmes e as plataformas se misturavam, ele decidiu ir na contramão e simplesmente observar tudo a sua volta. E começa a criticar a revolução digital, onde esta democratização acaba com os talentos, a credibilidade das informações, o “discurso cívico” e, consequentemente, extermina as instituições culturais.
O autor critica o fato de que a Web 2.0 veio com a promessa de levar mais verdade para mais pessoas, perspectivas imparciais, visões globais, mas ele afirma que está acontecendo justo o contrário. Muitas opiniões apaixonadas, superficiais ou simplesmente ponderadas. Situação que ele denomina como “a grande sedução”. Na mesma linha, observa que “o conteúdo gratuito e produzido pelo usuário, gerado e exaltado pela revolução da web 2.0, está dizimando as fileiras de nossos guardiões da cultura, à medida que críticos, jornalistas, editores, músicos e cineastas profissionais e outros provedores de informação especializada estão sendo substituídos por blogueiros amadores, críticos banais, cineastas caseiros e músicos que gravam no sótão. Enquanto isso, os modelos de negócios radicalmente novos, baseados em material gerado pelo usuário, sugam o valor econômico da mídia e do conteúdo cultural tradicionais.”

Além disso, ele diz que essa promessa vazia de democratização da mídia só está empobrecendo a cultura, tirando a credibilidade das informações e gerando um caos de excesso de informações descartáveis. A verdade, no caso, deixaria de ser um aspecto comum a todos e passaria a ser uma versão individual personalizada de cada produtor de informação fazendo até com que a própria verdade em si desaparecesse. Os blogs até hoje são os espaços em que isso se evidencia com mais facilidade, defende. O custo disso tudo, segundo Keen, é a queda na qualidade e confiabilidade da informação gerada. Além disso, as consequências “reais” onde jornalistas são demitidos, jornais fechados, livrarias falidas, tudo por culpa do conteúdo grátis gerado pelos usuários de internet. Porém, esta cultura do grátis tem um preço. Mas são as grandes empresas que ganham com tudo isso e os usuários terminam por ser os grandes fornecedores dessa "criatividade" ou desse "talento".