Keen, o autor começa a contar sua trajetória ao criar o Audiocafe.com., um dos primeiros sites com música digital. Através dele, passou a difundir sua ideia de que gostaria de compartilhar e ter músicas acessíveis em todos os lugares e melhorar o mundo com isso, o que basicamente é o “lema” da internet: ter acesso a diversos conteúdos em várias plataformas e mídias. Isso chamou atenção de muitos investidores, o que acabou tornando-o rico. Depois o autor descreve como acontece o evento de O’Rilley, no Vale do Silício, onde diversos apreciadores/especialistas da tecnologia e empresários da nova mídia se reuniam com um sentimento em comum que era o de “uma hostilidade partilhada em relação à mídia e aos entretenimentos tradicionais. Mistura de Woodstock com Burning Man (o festival contemporâneo de autoexpressão realizado num deserto em Nevada) e com um pouco de retiro da Stanford Business School, o FOO Camp é onde os partidários da contracultura dos anos 1960 se encontram com os entusiastas do livre-mercado dos anos 1980 e os tecnófilos dos 1990.”
Eles comemoravam enfim a volta da
internet, agora batizada por Tim O’Reilly, de Web 2.0. com isso, o sonho de que
todos os americanos estivessem conectados, com acesso à banda larga, estava
tornando-se realidade. Daí, a palavra-chave do encontro foi “democratização”. As
perspectivas diante do acontecimento ampliou-se também para o quanto esta
democratização poderia ser revolucionária. “Mídia,
informação, conhecimento, público, autor – tudo iria ser democratizado pela Web
2.0. A internet ia democratizar a grande mídia, as grandes empresas, o grande
governo”, explica o autor. No entanto, Keen seguia com a ideia de utilizar
a tecnologia para ampliar a música entre as massas. Mas isso foi abafado pelo
grupo que solidificava a ideia da democratização da mídia, onde a posição de
usuário e de autor passaram a se confundir.
Num evento onde todos obrigatoriamente
participavam e eram ali a nova mídia, aos poucos o Keen percebeu que os
sobreviventes seriam aqueles que fizessem mais “barulho”, num espaço onde todos
faziam seus próprios filmes e as plataformas se misturavam, ele decidiu ir na contramão
e simplesmente observar tudo a sua volta. E começa a criticar a revolução
digital, onde esta democratização acaba com os talentos, a credibilidade das informações,
o “discurso cívico” e, consequentemente, extermina as instituições culturais.
O autor critica o fato de que a
Web 2.0 veio com a promessa de levar mais verdade para mais pessoas, perspectivas
imparciais, visões globais, mas ele afirma que está acontecendo justo o
contrário. Muitas opiniões apaixonadas, superficiais ou simplesmente
ponderadas. Situação que ele denomina como “a grande sedução”. Na mesma linha,
observa que “o conteúdo gratuito e produzido pelo usuário, gerado e exaltado
pela revolução da web 2.0, está dizimando as fileiras de nossos guardiões da
cultura, à medida que críticos, jornalistas, editores, músicos e cineastas
profissionais e outros provedores de informação especializada estão sendo
substituídos por blogueiros amadores, críticos banais, cineastas caseiros e
músicos que gravam no sótão. Enquanto isso, os modelos de negócios radicalmente
novos, baseados em material gerado pelo usuário, sugam o valor econômico da
mídia e do conteúdo cultural tradicionais.”
Além disso, ele diz que essa
promessa vazia de democratização da mídia só está empobrecendo a cultura,
tirando a credibilidade das informações e gerando um caos de excesso de
informações descartáveis. A verdade, no caso, deixaria de ser um aspecto comum
a todos e passaria a ser uma versão individual personalizada de cada produtor
de informação fazendo até com que a própria verdade em si desaparecesse. Os blogs
até hoje são os espaços em que isso se evidencia com mais facilidade, defende. O custo disso tudo, segundo Keen,
é a queda na qualidade e confiabilidade da informação gerada. Além disso, as consequências
“reais” onde jornalistas são demitidos, jornais fechados, livrarias falidas,
tudo por culpa do conteúdo grátis gerado pelos usuários de internet. Porém,
esta cultura do grátis tem um preço. Mas são as grandes empresas que ganham com
tudo isso e os usuários terminam por ser os grandes fornecedores dessa
"criatividade" ou desse "talento".
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